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Tópico: 01358
Resultados de 20 projetos de pesquisa dedicados a investigar a dinâmica da floresta amazônica e a entender como ela pode ser afetada por atividades humanas ou mudança climática foram apresentados entre os dias 28 e 30 de novembro em reunião realizada no Auditório da Ciência do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus (AM).
Seis projetos integram a campanha científica Green Ocean Amazon Experiment (GoAmazon), que conta com apoio da FAPESP, do Departamento de Energia dos Estados Unidos (DoE, na sigla em inglês), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), entre outros parceiros. Os outros 14 projetos estão vinculados a um edital lançado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) há três anos no âmbito do Programa de Grande Escala Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), mantido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e coordenado pelo Inpa.
“Esses projetos estão em fase de conclusão e organizamos o encontro para conhecer seus resultados, identificar lacunas na pesquisa sobre a Amazônia, fomentar a colaboração entre os pesquisadores e, desta forma, poder planejar a agenda científica do LBA para os anos de 2017 a 2021”, contou Niro Higuchi, gerente científico do programa.
Entre as prioridades futuras, afirmou Higuchi, estarão estudos que tratam do ciclo do carbono, em especial, do metano, e da água na Amazônia. “Precisamos entender melhor os processos que ocorrem abaixo do nível do solo e isso inclui tanto essas questões físicas e químicas como também parte biológica do sistema”, comentou.
Dos resultados apresentados no evento, Higuchi destacou os avanços alcançados na área de química da atmosfera.
“Antes desses projetos não se tinha uma ideia clara de como a poluição gerada por uma cidade como Manaus – que tem 2 milhões de habitantes e é cercada por imensas áreas de floresta – interage com as emissões naturais das plantas, como os compostos orgânicos voláteis (VOCs). Os trabalhos mostram que essa interação ocorre e traz consequências para o funcionamento do ecossistema. Isso abre uma série de novas questões a serem respondidas”, disse Higuchi.
Outro avanço importante, de acordo com o gerente científico do LBA, foi na área de fisiologia. “Alguns estudos permitem avaliar como funciona o metabolismo das plantas em diferentes condições, sejam áreas de floresta primária ou secundária, fragmentos isolados ou pastagem. Essas informações serão incluídas nos modelos para uma melhor parametrização. O nosso grande desafio é melhorar os modelos climáticos e diminuir o grau de incerteza”, contou.
Áreas alagáveis
Segundo dados apresentados por Bruce Forsberg, pesquisador do Inpa e coordenador de um dos projetos selecionados no edital do CNPq, as áreas alagáveis da Amazônia são grandes fontes de gases de efeito estufa, especialmente gás carbônico e metano. Em seu projeto, foram medidas variáveis relacionadas à dinâmica de gases dentro do Lago de Janauacá (a 110 quilômetros de Manaus). O grupo está agora modelando os dados para associá-los aos cenários de mudança climática e de uso da terra.
Segundo Forsberg, já foi modelada, por exemplo, a influência da mudança climática sobre a vazão dos rios na Amazônia e nas áreas alagáveis. Resultados preliminares indicam, por exemplo, que na parte leste da Amazônia, onde há planos de construção de hidrelétricas, a vazão será menor tanto no período de cheia quanto no de seca, o que poderá inviabilizar as obras.
Jochen Schogart, também do Inpa, mostrou resultados de uma pesquisa que avaliou os distúrbios causados pela implementação da Usina Hidrelétrica de Balbina sobre a floresta de águas pretas (igapós). Segundo ele, foram observadas alterações na estrutura e na composição florística das florestas alagáveis.
Também presente na reunião, Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), pesquisador do LBA e um dos idealizadores do GoAmazon, destacou os estudos voltados a avaliar o impacto das áreas alagadas no balanço de carbono da região amazônica.
“Um dos projetos do LBA identificou árvores com mais de mil anos de idade em áreas alagadas, como as existentes perto de Mamirauá [reserva a oeste de Manaus]. Esse resultado foi uma grande surpresa, pois imaginávamos que devido ao processo de decomposição acelerado da madeira em áreas alagadas seria inviável a existência de árvores tão antigas. Esse conhecimento altera a forma como calculamos a mortalidade das árvores na Amazônia e como calculamos o balanço de carbono na região”, afirmou Artaxo.
O professor da USP também destacou os estudos feitos após as intensas secas ocorridas em 2005 e em 2010, que alteraram fortemente o ciclo do carbono. “Precisamos de novos estudos para entender melhor o impacto de eventos climáticos extremos no ciclo de carbono. Temos de processar esses dados, analisar com cuidado, até que possamos ter uma visão mais clara de como vai ser a Amazônia em um cenário em que eventos climáticos extremos serão frequentes”, avaliou.
Outra prioridade, na opinião de Artaxo, são novos estudos voltados a entender como ocorrem as interações entre aerossóis – tanto os naturais como oriundos de atividade humana – e como isso influencia o desenvolvimento de nuvens e o ciclo hidrológico da Amazônia.
“A fase de trabalho de campo do GoAmazon termina agora em dezembro, mas ainda ficaremos um bom tempo analisando os dados coletados. Já saíram cerca de 40 artigos vinculados à campanha e há pelo menos outros 50 em fase de elaboração”, adiantou.
Segundo Artaxo, ainda há uma série de questões importantes relativas à Amazônia a serem investigadas, porém há grande incerteza em relação ao fomento à pesquisa nos próximos anos.
Já Higushi afirmou que os recursos para a continuação do LBA serão preservados. O orçamento que gira em torno de R$ 3 milhões por ano deverá ser repetido em 2017.
“A pesquisa na Amazônia não pode parar. Vamos priorizar as coletas de rotina, mas as campanhas pontuais devem ocorrer com menos frequência”, disse.
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