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segunda-feira, 30 de setembro de 2019

6ª Edição do Fórum de Ensino Técnico da Área Química terá como tema "A Química dos Sentidos"


Imagem meramente ilustrativa

Tópico 01525

Com o tema "A Química dos Sentidos", a sexta edição do Fórum de Ensino Técnico da Área Química, a ser promovida no dia 8 de novembro pelo CRQ-IV com o apoio do Sindicato dos Químicos, Químicos Industriais e Engenheiros Químicos do Estado de São Paulo (Sinquisp), tem como principal objetivo demonstrar aos profissionais da Química como os sentidos tato, olfato, paladar e visão reagem provocando emoções, sentimentos e memórias.

O público-alvo é formado por empresários da área, diretores, coordenadores, representantes de curso, professores e estudantes.


Programação

8:30 – 8:50: Recepção e cadastramento

8:50 – 9:00: Boas-vindas (Comissão de Ensino Técnico do CRQ-IV)

9:00 – 12:30: Bloco 1
* A Química das Sensações – Prof. Dr. Pedro Faria (IQ-Unicamp) 
* Cores – Marcos Luis Quindici (DuPont)
* Olfato – Evandro Loiola (WNF)
* Rodada de perguntas com os palestrantes

12:30 – 14:00: Almoço livre

14:00 – 16:20: Bloco 2
* Análise Sensorial – Prof. Dr. Jorge Behrens (IQ-Unicamp)
* Tato – Matheus Henrique Vieira (Melk Cosméticos)
* Rodada de perguntas com os palestrantes

16:20 – 16:45: Encerramento e goodbye coffee


Inscrições

As inscrições devem ser feitas pelo e-mail cursos@sinquisp.org.br até 1º de novembro.

A taxa é de R$ 25,00 para profissionais da Química registrados no CRQ-IV e/ou associados ao Sinquisp ou estudantes da área química e de R$ 50,00 para os demais interessados.

No valor estão incluídos dois coffee breaks. As despesas com almoço, transporte e eventualmente hospedagem correrão por conta do participante. A participação no evento dará direito a certificado.


VI Fórum de Ensino Técnico da Área Química

Data: 8/11 - das 8h30 às 16h45

Local: Sede do CRQ-IV - Rua Oscar Freire, 2039 – São Paulo/SP



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quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Pesquisa: Novo método de análise de sedimentos marinhos contribui para reconstituição do paleoclima


Imagem meramente ilustrativa

Tópico 01524

A análise de sedimentos marinhos tornou-se uma ferramenta poderosa para a investigação do paleoclima. Esse material é carregado pelos rios dos continentes para os oceanos e sua composição permite calcular os valores de grandezas como temperatura, regime de chuvas nas áreas continentais e salinidade nos mares. Tal rastreamento do passado é fundamental para aferir a acurácia dos modelos climáticos atuais no contexto da mudança climática global.

Um novo método de análise de sedimentos foi proposto por Vinícius Ribau Mendes, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em artigo publicado na revista Paleoceanography and Paleoclimatology. Por sua originalidade, o estudo foi selecionado pelos editores para ser divulgado também na seção “Research Spotlights” do periódico Earth & Space Science News.

O estudo foi conduzido durante o doutorado de Mendes, com apoio de bolsa da FAPESP e orientação de Paulo César Fonseca Giannini. Também recebeu financiamento por meio de um Auxílio à Pesquisa - Apoio a Jovens Pesquisadores concedido a Cristiano Mazur Chiessi, coautor do artigo, e de um Auxílio à Pesquisa - Programa Equipamentos Multiusuários de Giannini.

Mendes e colaboradores analisaram colunas de sedimentos marinhos coletadas na costa nordeste do Brasil. Nesses “testemunhos”, como são chamados no jargão dos pesquisadores do paleoclima, encontraram argilominerais, quartzo e feldspato (grupo de silicatos de sódio, potássio, cálcio ou outros elementos), transportados do continente para o oceano pelo rio Parnaíba – o mais importante da região. Qualquer mudança substancial experimentada pelo rio, como as variações no regime de chuvas, é potencialmente registrada nesses sedimentos.

Para reconstruir as mudanças ocorridas na precipitação continental ao longo dos últimos 30 mil anos, propusemos um novo método, baseado na luminescência dos grãos de quartzo e feldspato. Essa luminescência varia, dependendo da constituição geológica das áreas de origem dos cristais e do tempo que eles ficaram submetidos aos processos de superfície antes de chegar ao fundo oceânico. Um cristal proveniente da cabeceira do rio possui uma assinatura específica, diferente daquela do cristal proveniente da parte média ou final do leito fluvial. Como no caso do rio Parnaíba o aumento do regime de chuvas impacta significativamente a cabeceira, uma maior porcentagem de grãos dessa área no testemunho marinho indica intensificação da precipitação pluvial”, disse Mendes à Agência FAPESP.

A luminescência é a luz emitida por alguns materiais que foram expostos à radiação ionizante e submetidos a um estímulo, como, por exemplo, calor ou luz. Outros estudos descobriram que, para o quartzo, a intensidade da luz emitida ou sensibilidade depende do meio geológico no qual o grão se formou e do tempo que permaneceu exposto ao sol durante sucessivos eventos de transporte ao longo do rio, antes de submergir no oceano. “Comprovamos isso empiricamente, colhendo amostras de quartzo e feldspato ao longo do rio Parnaíba. Verificamos que as amostras da cabeceira são muito diferentes daquelas colhidas no curso do rio”, disse.

O entendimento físico-químico dessa diferença ainda não é completamente explicado. O quartzo, um material mais simples e abundante do que o feldspato nos sedimentos, é constituído basicamente por dióxido de silício: SiO2. Mas pode conter defeitos formados pela incorporação de outros elementos químicos além de silício e oxigênio ou por ausência destes elementos na rede cristalina (vacâncias).

A luminescência resulta dessas alterações na rede cristalina. Elas dependem da composição química do meio no qual a rocha se formou. Além disso, depois de formado, o cristal sofre outras influências ao ser transformado em sedimento, como a quebra e redução de tamanho que muda a sua interação com a radiação ionizante do ambiente, exposição à luz solar e maior incidência de raios cósmicos.

Não se conhece exatamente como esses fatores influenciam a capacidade dos defeitos em gerar luminescência, mas um estudo realizado na bacia do rio Amazonas por André Oliveira Sawakuchi, do Instituto de Geociências da USP e colaboradores, demonstrou que, quanto mais tempo o cristal permanece exposto aos processos da superfície terrestre, maior a sua luminescência.

Essas hipóteses físico-químicas para explicar as diferenças ainda estão em estudo. Não temos uma explicação definitiva. O que podemos afirmar com segurança, porque possuímos os dados empíricos, é que os cristais dos vários locais do curso do rio são diferentes. Então, ao encontrar grãos desses cristais no testemunho marinho, conseguimos determinar, a partir de sua luminescência, onde esses materiais se formaram. E aferir como foi o processo que os levou do continente ao oceano”, disse Mendes.

A medição da luminescência é feita em amostras colhidas, de dois em dois centímetros, ao longo do testemunho. Todas as amostras são expostas ao mesmo tipo e quantidade de radiação ionizante e depois estimuladas por calor ou luz.

Nosso método complementa outros dois, já consagrados pela comunidade científica. Um deles, que traz a informação mais precisa sobre quantidade de chuvas, baseia-se na medição da proporção dos isótopos de hidrogênio presentes em moléculas muito resistentes de plantas terrestres levadas para o mar. Esses isótopos, que a planta incorpora em suas moléculas, são provenientes da água das chuvas”, descreveu o pesquisador.

Os isótopos estáveis do hidrogênio são o prótio, cujo átomo é composto por um próton e um elétron, e o deutério, também chamado de hidrogênio pesado, composto por um próton, um nêutron e um elétron. O prótio, que é o isótopo mais abundante, ao se combinar com o oxigênio produz a água comum: H2O. O deutério produz a água pesada: D20.

Como as nuvens de chuva na região Nordeste do Brasil se deslocam do oceano para o continente, quanto mais chove, menor a quantidade de deutério despejada no interior do continente, pois a água pesada, por ser mais densa, tende a cair primeiro, ficando pelo caminho.

Assim, a proporção de deutério e prótio nas moléculas das plantas depositadas em diferentes profundidades dos sedimentos marinhos fornece informação muito precisa sobre a variação da quantidade de chuvas ao longo do tempo.

Apesar de sua precisão, esse método tem o inconveniente de ser muito trabalhoso e caro. Além disso, depende de a matéria orgânica estar preservada no sedimento – o que nem sempre acontece”, ponderou Mendes.

O segundo método baseia-se na análise da composição química do sedimento, a partir da fluorescência de raios X. A técnica consiste em excitar a amostra com raios X e analisar as características do sinal eletromagnético que ela emite como resposta. Como cada elemento químico emite em uma faixa de frequência específica, isso permite determinar os elementos presentes na amostra. O objetivo é determinar a proporção de titânio e ferro, provenientes do continente, em relação ao cálcio, proveniente das carapaças dos animais marinhos. Um aumento no percentual de titânio e ferro sinaliza um maior arraste de material continental em função da intensificação das chuvas.

Esse segundo método é fácil, rápido e barato. Enquanto a determinação dos percentuais de isótopos de hidrogênio leva diversos meses de laboratório para ser feita, o escaneamento do titânio, ferro e cálcio é feito em um dia. O problema é que esse método já não é tão preciso quanto o anterior. Embora a variação do percentual de titânio e ferro indique maior ou menor precipitação pluvial em determinado período, essa variação não é proporcional à quantidade de chuvas, pois é afetada também pelo rebaixamento ou elevação do nível do mar. Se o nível do mar abaixa, a foz do rio fica mais próxima da região de coleta de sedimentos. Se sobe, fica mais distante. Nesse caso, a coluna de sedimentos pode apresentar maior ou menor quantidade de titânio e ferro sem que isso tenha sido causado por mais ou menos chuvas. Então, o que se ganha em rapidez e custo, se perde em precisão.

O nosso novo método fica entre um e outro. É menos preciso do que o primeiro e mais preciso do que o segundo. Também fica no meio-termo nos quesitos dificuldade e custo. Além disso, como o cristal de quartzo é um material muito resistente, não existe o risco de ele ser degradado na coluna de sedimentos como pode ocorrer com as moléculas orgânicas do primeiro método e como se baseia nas propriedades intrínsecas desses cristais, também não existe o risco de ele ser afetado por fatores externos, como a elevação do nível do mar, tal como ocorre com o segundo método. Não se trata de substituir um método por outro. Eles são complementares e devem ser usados conforme as necessidades”, disse Mendes.

O grupo também avalia a possibilidade de construir um escâner de luminescência para testemunhos marinhos.

"Embora o equipamento usado na medição da sensibilidade à luminescência seja sofisticado, o procedimento laboratorial envolvido é relativamente simples e rápido e os minerais alvos são os mais comuns em sedimentos vindos do continente. Com isso, o método desenvolvido pelo Vinícius promete tornar-se, de agora em diante, uma rotina no estudo da paleoprecipitação com base em testemunhos marinhos na área de influência de grandes rios", disse Giannini.

O artigo Thermoluminescence and Optically Stimulated Luminescence Measured in Marine Sediments Indicate Precipitation Changes Over Northeastern Brazil pode ser lido em https://agupubs.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1029/2019PA003691.

A matéria de divulgação A New Proxy for Past Precipitation, publicada em Research Spotlights, pode ser lida em https://eos.org/research-spotlights/a-new-proxy-for-past-precipitation.


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segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Usina Hidrelétrica de Belo Monte descumpriu a promessa de levar desenvolvimento sustentável à região amazônica


Imagem meramente ilustrativa

Tópico 01523

Em um intervalo de pouco mais de 40 anos, Altamira, no sudoeste do Pará, foi cenário de duas grandes obras de infraestrutura. A primeira foi a construção da rodovia Transamazônica, entre 1971 e 1973, e a segunda, a usina hidrelétrica de Belo Monte, na bacia do Rio Xingu, iniciada em 2011.

Estudioso dos impactos sociais e ambientais desses dois grandes projetos, Emilio Moran, professor da Universidade Estadual de Michigan, nos Estados Unidos, e pesquisador visitante do Núcleo de Estudos Ambientais (Nepam) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), avalia que os distúrbios causados por ambas as construções no município paraense tiveram algumas semelhanças.

Quando cheguei a Altamira, em 1972, para pesquisar sobre a Transamazônica, presenciei a explosão populacional de mil para 10 mil habitantes em menos de um ano, o aumento do custo de vida e as rápidas transformações sociais e espaciais na cidade em função da velocidade da implantação da obra”, disse Moran.

Ao voltar para a região, em 2010, para estudos sobre a usina de Belo Monte, fiquei surpreso ao me deparar com uma situação parecida: uma nova explosão demográfica, de 75 mil para 150 mil habitantes em dois anos, e uma série de problemas desencadeados por uma obra dessa magnitude. Parece que, passados quase 40 anos, as lições sobre como gerenciar grandes projetos de infraestrutura não foram aprendidas”, afirmou o pesquisador em um seminário realizado na sede da FAPESP nos dias 27 e 28 de agosto.

Durante o evento, foram apresentados os resultados de uma pesquisa sobre os processos sociais e ambientais da construção da hidrelétrica de Belo Monte. Uma das principais conclusões foi que as promessas de induzir o desenvolvimento econômico sustentável da região, por meio da geração de empregos e melhorias nos serviços públicos de saneamento, saúde e educação, feitas antes e durante a construção da usina, na qual foram investidos R$ 42 bilhões, não se concretizaram. Pelo contrário: contribuíram para aumentar o custo de vida e da energia elétrica para a população, agravar problemas nos sistemas de habitação e de água e saneamento, além de levar a uma diminuição da produção de alimentos e da pesca na região.

A pesquisa foi realizada nos últimos cinco anos, no âmbito de um projeto coordenado por Moran e apoiado pela FAPESP, na modalidade São Paulo Excellence Chair (SPEC).

Um dos objetivos do SPEC é trazer do exterior para São Paulo – por um período de, pelo menos, 12 semanas por ano – um pesquisador com distinção em sua área do conhecimento e reconhecimento internacional, com a tarefa de criar núcleos de pesquisa em universidade paulista e liderar um projeto de pesquisa apoiado pela Fundação, explicou Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP.

A ideia é criar oportunidades de pesquisa de excelente qualidade e competitivas internacionalmente e também possibilitar que jovens pesquisadores em São Paulo possam conviver com cientistas estrangeiros líderes em suas áreas”, afirmou Brito Cruz.

Foi com essa missão que Moran dividiu seu tempo entre a Universidade de Michigan e o Nepam, da Unicamp, liderando um projeto que tinha como objetivo tratar, sob um ponto de vista científico, uma questão, como ele diz, desde início muito politizada: os impactos sociais e ambientais da construção da usina de Belo Monte.

A ideia foi reunir todas as informações possíveis de todos os atores envolvidos na obra, como o consórcio responsável pela construção, as agências de governo responsáveis pela implementação e a população afetada, para possibilitar o entendimento da complexidade e documentar o processo de uma forma rigorosa, sem introduzir nenhum viés analítico”, disse.


Nova organização espacial

Na avaliação de Moran, os únicos benefícios da obra para a região foram a pavimentação de um grande trecho da Transamazônica – uma reivindicação antiga – e a criação de empregos na obra e no setor comercial durante a construção, mas de forma muito temporária. O pico de criação de empregos aconteceu no terceiro ano da empreitada, depois começou um processo de demissões até o término da construção, disse o pesquisador.

O aumento da população, em razão da chegada de 50 mil pessoas a Altamira entre 2011 e 2015 para trabalhar diretamente na obra ou nos setores de comércio e de serviços, resultou em especulação imobiliária na cidade, que já sofria uma insuficiência crônica de moradias. Além disso, deu origem a novos loteamentos planejados e não planejados e novos bairros periféricos.

Com todas essas mudanças, uma nova organização espacial urbana surgiu. “Ocorreu uma nova distribuição da população urbana, antes muito mais concentrada no centro da cidade e, com a construção da usina, um espalhamento maior para outros bairros”, disse Guillaume Leturcq, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e um dos pesquisadores participantes do projeto.

O aumento da densidade populacional também agravou os problemas sanitários da cidade, apontaram os pesquisadores.

Antes da obra, 86% da população de Altamira usava poços para consumo doméstico de água e, mais de 90%, fossas sépticas para descarte de esgoto.

Com o aumento da população e a demora nos investimentos em saneamento na cidade, que não contava com uma rede de esgoto, novos poços e fossas foram construídos, aumentando o risco de contaminação da água.

Como as moradias ficaram mais próximas, ao abrir um poço, um novo morador não tem certeza se ele está longe da fossa do vizinho”, explicou Cristina Gauthier, doutoranda na Universidade Estadual de Michigan, que estudou o assunto durante o projeto.

A elevação do nível da água do rio Xingu para a construção da barragem contribuiu para agravar o problema ao diminuir a distância entre o fundo das fossas e as águas subterrâneas, apontou Gauthier.

O transporte de contaminantes das fossas para as águas subterrâneas acontece mais rápido nesse caso”, disse.


Populações atingidas

O aumento do nível da água com a barragem também causou o deslocamento de 22 mil pessoas que viviam às margens do rio Xingu e na cidade de Altamira, em áreas baixas que seriam inundadas pelo reservatório, para cinco reassentamentos urbanos coletivos (RUCs), construídos pelo consórcio responsável pela obra em áreas periféricas de Altamira, a mais de dois quilômetros do centro.

Essa população vivia, até então, em casas de palafitas, próximas a igarapés ou áreas chamadas de “baixões”. As comunidades reuniam pescadores e ribeirinhos citadinos – que, além de morar em ilhas no Xingu, também tinham uma casa de palafita na cidade para ter acesso aos serviços de saúde, educação e comercializar a pesca.

Essas pessoas perderam o contato com vizinhos e familiares que moravam próximas a elas nessas comunidades de palafitas e ‘baixões’, além da ligação com o rio, e foram reassentadas a mais de dois quilômetros do centro da cidade”, disse Leturcq.

Foi um processo de migração único no país. Altamira é a cidade mais impactada pela construção de uma usina hidrelétrica de forma direta no Brasil”, afirmou.

A população de ribeirinhos citadinos e nas ilhas inundadas pelo reservatório foi a mais afetada pela obra, destacaram os pesquisadores.

Ao contrário dos grupos indígenas e de pescadores, que tiveram seus direitos específicos reconhecidos, os ribeirinhos a jusante da obra – no rio abaixo da barragem no Xingu – foram ignorados tanto nos estudos de impacto como no processo de reconhecimento e indenização de danos causados pela obra, apontou Vanessa Boanada Fuchs, pesquisadora da University of St. Gallen, da Suíça, e participante do projeto.

Os gestores do empreendimento diziam que nunca tinham ouvido falar em ribeirinhos citadinos como grupo de população tradicional, e que eram simplesmente pescadores”, disse Fuchs.

Levantamos a questão de que essa população precisaria ser indenizada pelas duas moradias que faziam parte de seu modo de vida, por ter sido retirada de uma ilha que foi inundada pela barragem e pela perda da moradia de palafita, na cidade. Os gestores da obra se recusaram a reconhecer esse modo de vida e isso gerou muita polêmica no processo indenizatório”, contou.

A população ribeirinha continua tentando reconhecimento de seu modo de vida com apoio do Ministério Público Federal, disse Fuchs.

Muito menos estudados do que as populações indígenas que vivem em territórios delimitados, os ribeirinhos descendem de nordestinos que foram trabalhar na Amazônia durante o ciclo da borracha e de outros imigrantes da região Nordeste.

Um número expressivo deles tem relação de parentesco com grupos indígenas, como os jurunas, mas eles se identificam como ribeirinhos e vivem dispersos ao longo dos rios, fora de áreas protegidas, explicou a pesquisadora.

Apesar de terem origens distintas e ocupar territórios diferentes, eles partilham de algumas práticas socioculturais e ambientais em que o papel do rio é central”, disse Fuchs.

"Como não foram identificados tanto pelo governo como pelos empreendedores da obra como um grupo populacional com direitos específicos, a exemplo dos indígenas, muitos ribeirinhos foram removidos de áreas próximas ao rio como um habitante comum da cidade e receberam como indenização pela casa uma quantia variável de dinheiro ou a possibilidade de obter uma nova moradia em um reassentamento, distante do rio" afirmou Fuchs.

As mulheres ribeirinhas também pescavam com os maridos e a mudança da família para longe dos rios causou uma perda de renda familiar”, disse a pesquisadora.


Impactos econômicos

A construção da usina também causou perdas econômicas para ribeirinhos em comunidades localizadas não só a jusante – no rio abaixo da barragem, no Xingu –, como também a montante (na parte de cima do reservatório do rio), ponderaram os pesquisadores.

Durante um estudo de mestrado feito no âmbito do projeto pela doutoranda Laura Castro-Diaz, da Universidade Estadual de Michigan, em uma comunidade de ribeirinhos em Vila Nova, situada a jusante do rio, os pescadores apontaram uma diminuição na abundância e variedade de espécies de peixes com maior importância na região. Entre eles, o piraíba (Brachyplathystoma filamentosum) e o tucunaré (Cichla ocellaris).

A construção da barragem diminuiu o fluxo da água e, com isso, houve uma perda dos pontos de pesca. Isso também aumentou as despesas de deslocamento dos ribeirinhos, que agora precisam ir para mais longe para conseguir pescar”, disse Castro-Diaz.

Outro setor impactado pela obra foi o agropecuário. A construção da usina hidrelétrica contribui para diminuir a produção agrícola familiar em Altamira ao diminuir a disponibilidade de trabalhadores para a atividade, atraídos por empregos na obra.

No período entre 2010 e 2014, 34% dos agricultores patronais e 29% dos produtores agrícolas familiares reportaram ter observado uma queda na disponibilidade de mão de obra em razão da migração de trabalhadores para a cidade para trabalhar na construção de Belo Monte, o que fez aumentar o custo salarial.

No mesmo período, 60% dos agricultores que se dedicavam à agricultura familiar abandonaram suas lavouras de culturas anuais como arroz, feijão e milho. Em contrapartida, aumentou a produção de cacau e a bovinocultura na região, de acordo com dados apresentados por Miqueias Calvi, professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), também participante do projeto.

A construção da usina de Belo Monte foi apresentada como a via para o progresso e crescimento econômico da região, uma vez que iria induzir setores na região, como o agropecuário, para atender à demanda do aumento da população. Mas aconteceu o contrário”, afirmou Calvi.

Hoje, Altamira importa alimentos de outras regiões do país, como pescados de Santa Catarina, frutas de São Paulo e arroz do Rio Grande do Sul, exemplificou o pesquisador.

Os impactos econômicos positivos da obra foram temporários e transitórios e não contribuíram para a construção de bases para um desenvolvimento sustentável. Foi uma oportunidade perdida”, avaliou Calvi.


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sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Ministério do Meio Ambiente promove 1º curso de capacitação para os interessados em participar do Edital 2019 de "Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos"


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Tópico 01522

O Ministério do Meio Ambiente (MMA) promove nesta sexta-feira (13), das 9h às 18h, em sua sede, em Brasília, o primeiro curso de capacitação para os interessados em participar do Edital 2019 – Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos, destinado a financiar projetos apresentados por municípios, consórcio de municípios e o Distrito Federal que visem melhorar a gestão do lixo.

As inscrições já foram encerradas, mas o curso terá transmissão on line pela internet, no canal do Youtube do MMA. Quem não se inscreveu, portanto, pode assistir ao evento de capacitação, clicando aqui. No dia 20, haverá novo treinamento. Porém, as inscrições já estão também esgotadas. Da mesma forma que agora, o curso será transmitido pela internet. Além disso, os arquivos ficarão, depois, disponíveis para download no portal do MMA.

Não é obrigatório participar dos eventos de capacitação para enviar proposta em atendimento ao edital. O treinamento serve para auxiliar no processo de elaboração e apresentação das propostas.


Retificação

Na segunda-feira (9), o MMA publicou retificação no texto do edital. As alterações foram feitas nos itens 3, que trata das instituições que poderão participar do certame, e 5, que cita as contrapartidas. A data limite para apresentação das propostas é 30 de setembro. Clique aqui para ter acesso ao edital com as retificações, também disponível na Plataforma+Brasil, no Programa 4400020190009.

O edital, em parceria com o Fundo de Defesa de Direitos Difusos, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, abrange quatro ações do Programa Lixão Zero, lançado em 30 de abril deste ano, no âmbito da Agenda Nacional de Qualidade Ambiental Urbana do MMA.

O objetivo é financiar ações de apoio aos municípios na desativação de lixões e aterros controlados, na coleta seletiva das frações secas e no aumento dos índices de reciclagem.

A previsão é de R$ 30 milhões em investimentos, sendo que cada projeto poderá ter valores entre R$ 1 milhão e R$ 5 milhões. A execução deverá ser no período de 12 a 36 meses. Os recursos são não-reembolsáveis, ou seja, não precisam ser devolvidos ao governo federal após a conclusão do projeto.

Ainda de acordo com o edital, poderão ser financiadas ações como aquisição de equipamentos para coleta seletiva de resíduos recicláveis e de resíduos orgânicos, ecocentros, unidades de triagem de resíduos recicláveis e de reciclagem de resíduos da construção civil, dentre outros. Não são contempladas despesas com obras (construção civil).


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quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Manter a vegetação nativa em propriedades rurais rende ao Brasil R$ 6 trilhões ao ano


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Tópico 01521

Os 270 milhões de hectares de vegetação nativa preservados em propriedades rurais – entre áreas desprotegidas e de Reserva Legal – rendem ao Brasil R$ 6 trilhões ao ano em serviços ecossistêmicos, como polinização, controle de pragas, segurança hídrica, produção de chuvas e qualidade do solo.

O cálculo foi publicado na revista Perspectives in Ecology and Conservation e endossado por 407 cientistas brasileiros, de 79 instituições de pesquisa.

O artigo tem o objetivo de mostrar que preservar a vegetação nativa não é um impedimento ao desenvolvimento social e econômico, e sim parte da solução. É um ativo para o desenvolvimento sustentável do Brasil, de uma forma diferente do que foi feito na Europa há 500 anos – quando o nível de consciência ambiental era diferente”, disse Jean Paul Metzger, do Departamento de Ecologia da Universidade de São Paulo (USP) e primeiro autor do artigo.

O trabalho usou estudos de valoração de serviços ecossistêmicos e aplicou esses valores aos 270 milhões de hectares de vegetação nativa dos biomas brasileiros. Essas estimativas estão consolidadas e vêm sendo aplicadas há anos, inclusive pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês).

Esse artigo é importante, pois reúne um conjunto sólido de informações para rebater argumentos que, embora não tenham fundamento, são usados como justificativa para alterações no Código Florestal e nas exigências sobre Reserva Legal”, disse Carlos Joly, coordenador do Programa BIOTA-FAPESP e um dos cientistas que endossam o artigo.

Joly afirma ser importante ressaltar que Reserva Legal e Área de Preservação Permanente têm papel complementar. “Uma não substitui a outra. A Reserva Legal tem uma importância para a manutenção ou restauração de serviços ambientais. Elas são essenciais não só para a questão da biodiversidade, mas também para a proteção e permeabilidade do solo, recarga de aquíferos, proteção de recursos hídricos, estoque de carbono e para manter a população de polinizadores, que é de interesse do próprio agricultor”, disse Joly.

No Brasil, o tamanho da área que deve ser preservada como Reserva Legal varia de acordo com a região: 80% no caso da vegetação florestal da Amazônia, 35% na transição entre Amazônia e Cerrado e 20% nas demais regiões como Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pantanal e Pampa. Atualmente, a área de Reserva Legal representa quase um terço de toda a vegetação nativa do país.

O Brasil preserva bastante, tem mais de 60% de cobertura de vegetação e tem uma legislação rigorosa. Se olharmos o ranking do Banco Mundial, estamos na trigésima posição, atrás da Suécia e Finlândia, com cerca de 70%. Mas é preciso chamar a atenção de que preservar não é ruim”, disse Metzger.

O artigo foi elaborado em resposta ao Projeto de Lei n° 2362, de 2019, apresentado no Senado Federal. O texto, posteriormente retirado pelos autores, pretendia alterar ou eliminar a exigência de Reserva Legal. Uma versão do artigo em português será levada ao Congresso e apresentada aos deputados, senadores e auxiliares técnicos.

Se o projeto de lei fosse aprovado, uma área de 270 milhões de hectares de vegetação nativa poderia ser perdida, sendo 167 milhões em áreas de Reserva Legal, que se somariam aos 103 milhões atualmente não protegidos pela Lei de Proteção da Vegetação Nativa (conhecida como Novo Código Florestal), nem como Reserva Legal, nem como Área de Proteção Permanente (por não serem margem de rio, topo de morro, área de encosta e outros ecossistemas considerados sensíveis).


Perde-se dinheiro

Um dos argumentos apresentados no artigo é o impacto de polinizadores na produtividade das lavouras de café. “Um estudo realizado pelo nosso grupo mostrou que a produção dos frutos de café é maior com a presença de abelhas, e que isso representa um ganho de R$ 2 bilhões a R$ 6 bilhões por ano no Brasil. Sem o trabalho das abelhas, continuaria tendo produção de café, mas 20% menor”, disse Metzger.

"O serviço de polinização, no entanto, ocorre apenas em áreas adjacentes à vegetação natural, geralmente a uma distância inferior a 300 metros, o que exige a criação de interfaces entre culturas agrícolas e mata nativa. É importante saber que todo ecossistema tem um ponto de equilíbrio. Não adianta perder um Cerrado inteiro para plantar soja e ficar sem esses serviços. Essa é a base da Reserva Legal", disse Paulo Artaxo , membro da coordenação do Programa FAPESP de Mudanças Climáticas Globais, que também endossa o artigo.

Quem tem uma visão de curto prazo, como parte do agronegócio, pensa em três ou quatro anos de lucro pessoal, e depois o país fica com um prejuízo enorme. Essa filosofia tem de acabar e o artigo deixa isso bem claro”, disse Artaxo.



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segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Pesquisa: 1º Relatório de Acompanhamento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável do Estado de São Paulo


Imagem ilustrativa. Divulgação: Fapesp


Tópico 01520

Está disponível no site da FAPESP a íntegra do 1º Relatório de Acompanhamento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável do Estado de São Paulo. A publicação reúne uma série de indicadores – em áreas como saúde, segurança, educação, saneamento, energia e justiça social – que buscam retratar as condições paulistas no que se refere ao cumprimento da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável (ODS), proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015.

O plano de ação da ONU estabeleceu 17 objetivos e 169 metas a serem alcançadas pelos 193 países-membros até o ano de 2030. O Estado de São Paulo aderiu à iniciativa desde o seu lançamento, quando esteve representado na Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Em 2016, foi criado um grupo de trabalho com membros de diversas secretarias de governo para iniciar um processo de conscientização e difusão da Agenda 2030.

Como resultado de vários workshops com representantes do Programa de Desenvolvimento da ONU (PNUD), da Comissão Nacional para os ODS e da Sociedade Civil, foi criada a Comissão Estadual de ODS, pelo Decreto nº 63.792, de 9 de novembro de 2018, reorganizada pelo Decreto nº 64.148, de 19 de março de 2019, cuja função é difundir e dar transparência ao processo de implementação da Agenda 2030 em âmbito estadual.

Tendo como base o Plano Plurianual [PPA 2016-2019], instrumento que integra todas as ações do governo estadual, o relatório buscou mostrar de que modo os programas governamentais ali existentes se conectam com a Agenda 2030. Foi um trabalho retroativo, que conjugou esforços da Fundação Seade, da FAPESP e da Secretaria da Fazenda e Planejamento [responsável pelo PPA], que poderá orientar a elaboração de políticas públicas”, disse Ana Paula Fava, assessora especial para a Agenda 2030/ONU, à Agência FAPESP.

Além de explicitar os esforços para o cumprimento das metas propostas pela ONU, a publicação traz indicadores que permitem retratar as condições paulistas em áreas como erradicação da pobreza e redução das desigualdades, segurança alimentar, cobertura vacinal, taxa de escolarização e de desemprego, igualdade de gênero, preservação ambiental, entre outras.

O relatório mostra que o Estado de São Paulo está no bom caminho no que se refere a alguns dos indicadores”, destacou o ex-presidente da FAPESP José Goldemberg no prefácio do livro. Como exemplo, ele menciona a forte queda da taxa de mortalidade infantil (ODS 3 – Saúde e Bem-estar), a melhoria do atendimento escolar no nível da pré-escola (ODS 4 – Educação de Qualidade), o fato de 76,8% da energia consumida no Estado ser renovável (ODS 7 – Energia Limpa e Acessível), a queda substancial na criminalidade (ODS 16, Paz, Justiça e Instituições Eficazes) e os progressos obtidos na cobertura florestal do Estado e na proteção ambiental marinha (ODS 14 e 15 – Vida na Água e Vida Terrestre).

Alguns indicadores, contudo, se mantiveram estáveis, como a proporção de pessoas em situação de pobreza (ODS 1); outros, como a taxa de desemprego, resultante da severa crise econômica pela qual o Brasil passou, aumentaram. A importância deste trabalho consiste em identificar os indicadores que dão uma visão realista de onde estamos e apontar claramente as áreas em que precisamos melhorar”, afirmou Goldemberg.

A seleção dos indicadores levou em conta a qualidade de suas metodologias, a coerência de seus resultados, a regularidade de sua produção e a possibilidade de comparação entre as unidades da federação. O levantamento foi feito pela equipe da Fundação Seade, com a colaboração da Gerência de Estudos e Indicadores (GEI) da FAPESP.

O livro mostra a evolução recente desses indicadores, permitindo monitorar em que medida estamos atingindo as metas da ONU. Essas informações estão sendo consideradas na elaboração do novo PPA [2020-2023]”, contou Sinésio Ferreira, da GEI.

Segundo Fava, o PPA 2020-2023 estará “totalmente alinhado aos ODS”. “Graças à publicação, a equipe do governo estava preparada para elaborar o PPA 2020-2023 alinhado aos compromissos assumidos pela Agenda 2030. O governador João Doria estabeleceu nove objetivos estratégicos para sua gestão – que abrange áreas como saúde, educação, segurança e qualidade de vida urbana –, cujos programas serão classificados em relação aos ODS para mostrar como São Paulo está auxiliando o Brasil a alcançar as metas globais da ONU”, disse.



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