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quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

ALERTA: Temperatura alta e clima seco alteram tempo de vida de árvores em florestas tropicais


Imagem meramente ilustrativa

Tópico 01575

Temperaturas elevadas e o clima mais seco que vêm sendo registrados com maior frequência nos últimos anos em vários países estão afetando a dinâmica das florestas tropicais, como Amazônia e Mata Atlântica. Sob essas condições climáticas, as árvores morrem mais rapidamente.

Em biomas nos trópicos elas já crescem, em média, duas vezes mais rápido do que as de florestas temperadas e boreais e vivem menos – 186 anos, em média, contra 322 anos, respectivamente. As florestas tropicais úmidas abrigam cerca de 50% das espécies de animais terrestres e plantas do planeta, apesar de representarem apenas 7% da área terrestre mundial.

Como a previsão é de que a temperatura global continue subindo – ao menos 1,5 °C acima do nível pré-industrial (1850-1900) nas próximas décadas –, isso pode provocar mudanças nas características de cada um desses biomas tropicais, resultando, no futuro, em alterações da biodiversidade e diminuição do número de espécies.

Também deve afetar o papel que essas árvores desempenham nos estoques de carbono (CO2), levantando preocupações em relação à capacidade de absorção desse gás de efeito estufa no futuro. As florestas são o maior reservatório de biomassa terrestre, principalmente as tropicais, responsáveis pela metade desse estoque.

Para se desenvolverem, as plantas precisam de uma grande quantidade de CO2 na fase de crescimento. Com isso, acabam processando por meio da fotossíntese cerca de um quinto do total anual do carbono atmosférico. Assim, pequenas mudanças no funcionamento da floresta podem alterar significativamente os níveis desse gás.

Esse cenário de redução da longevidade ligada a efeitos climáticos em biomas tropicais está traçado em estudo liderado por pesquisadores brasileiros e publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), da Academia Norte-Americana de Ciências.

De acordo com a pesquisa, “nas planícies tropicais quentes foram encontradas diminuições consistentes na longevidade das árvores em locais secos e com temperaturas médias anuais acima de 25,4Ë?C”.

Observamos no estudo que, quando a temperatura média passa dos 25,4°C, a taxa de crescimento está num pico, em patamar alto, e a longevidade diminui. É um efeito além do esperado pela relação negativa entre crescimento e longevidade das árvores. Mas também está ligado à disponibilidade hídrica. Quando o local seca, cria um estresse na planta. Então ela atinge tamanhos menores e morre mais jovem, mesmo sendo uma espécie que poderia ficar maior”, explicou à Agência FAPESP Giuliano Locosselli, atualmente pesquisador do Instituto de Botânica.

Ele é primeiro autor juntamente com Marcos Buckeridge, professor e diretor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP), que resultou de um projeto de pesquisa apoiado pela FAPESP.

Locosselli também foi um dos autores de outra pesquisa, publicada recentemente na revista Nature Communications, que já havia apontado relação inversa entre a taxa de crescimento das árvores e a longevidade, independentemente da espécie e do local onde se encontram. Agora, o novo estudo coloca lupa sobre o comportamento em florestas tropicais e aponta o papel do clima e da disponibilidade hídrica nesses quadros.

Ao ser questionado sobre como ficariam essas árvores diante de estimativas de agências ligadas às Nações Unidas (ONU) de que a temperatura média da Terra pode subir mais de 1,5 °C até 2050, Buckeridge afirma que a forma de evitar um cenário pior para os biomas seria bloquear o aquecimento global.

Porém, ele lembra que há o fenômeno da inércia, ou seja, mesmo se agora fossem suspensas todas as emissões de gases de efeito estufa que provocam o aquecimento, a temperatura ainda assim manteria a tendência de alta por um período. “Acho que o cenário dos 25,4 °C [utilizado no estudo] não tem mais como reverter.

No ponto em que estamos é preciso trabalhar com medidas de mitigação das mudanças climáticas e de adaptação, como plantar novas árvores”, avalia o professor, que participou como autor no relatório especial Mundo em Aquecimento de 1,5 °C, do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), da ONU.

Já Locosselli cita o caso da floresta do Congo, a segunda maior tropical do mundo, só atrás da Amazônia. “Atualmente ela ainda não é afetada pelo efeito da temperatura, como já se viu na região amazônica. Mas, a partir desse grande aumento de temperatura, começaremos a observar sinais de elevação da mortalidade. Isso vai ao encontro do que vimos no nosso estudo. Sob esse ponto de vista, o cenário é bastante sombrio”, completa.

Documento divulgado pela Organização Meteorológica Mundial (WMO, na sigla em inglês) apontou que a temperatura média global entre 2016 e 2020 (de janeiro a julho) está entre as mais quentes do que qualquer outro período.

Atualmente, é estimada em 1,1 °C acima da era pré-industrial e 0,24 °C mais quente do que a média global para 2011-2015. Além disso, dados das agências norte-americanas Nasa e National Oceanographic and Atmospheric Administration (NOAA) apontaram os anos de 2016 e 2019 como o primeiro e o segundo mais quentes de todos os tempos, respectivamente.


Metodologia

Para realizar o estudo Global tree-ring analysis reveals rapid decrease in tropical tree longevity with temperature, o grupo de Locosselli e Buckeridge avaliou dados de anéis de crescimento de mais de 100 mil árvores no mundo. Cada um desses anéis, localizados nos troncos, representa um ano de vida da planta, permitindo uma estimativa da idade das árvores e da velocidade (taxa) de crescimento. Também foi analisado como o clima influencia no tempo de vida.

Esses efeitos independentes da temperatura e da disponibilidade de água na longevidade das árvores nos trópicos são consistentes com as previsões teóricas de aumentos nas demandas evaporativas no nível da folha sob um clima mais quente e seco, e podem explicar os aumentos observados na mortalidade de árvores em florestas tropicais, incluindo a Amazônia, e mudanças na composição da floresta na África Ocidental”, escrevem os pesquisadores no artigo da PNAS.

Segundo Buckeridge, além das altas temperaturas, a maior quantidade de CO2 na atmosfera contribui para acelerar a atividade metabólica das plantas. Na última década, houve um crescimento de 1,5% ao ano nas emissões de gases de efeito estufa, incluindo o carbono.

Em grande parte foram provocadas por fontes fósseis de energia e alterações no uso da terra, como o desmatamento e as queimadas, de acordo com o relatório Lacuna de Emissões 2019, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

Os pesquisadores explicam que em áreas frequentemente atingidas por queimadas a longevidade das árvores é consideravelmente menor. Essa variável chegou a ser analisada, mas, por questões metodológicas, ficou fora do estudo.

Neste ano, por exemplo, dois dos biomas brasileiros já registraram recorde de focos de incêndio, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Até outubro, o Pantanal teve o pior ano desde 1998, quando o instituto começou a monitorar focos ativos de fogo no local, e na Amazônia o número de ocorrências nos primeiros dez meses de 2020 superou o total de 2019.


Trabalho de formiguinha

O estudo liderado pelo grupo brasileiro teve a colaboração de pesquisadores de universidades britânica, como a de Leeds, alemã e chilena. Levou cerca de quatro anos para ficar pronto e envolveu especialistas de diferentes áreas.

Esse trabalho traz uma visão global, com dados, por exemplo, de bancos públicos de pesquisa e de mais de 200 estudos científicos. Neste sentido, seria impossível realizá-lo 10, 20 anos atrás porque não havia muitos estudos sobre florestas tropicais ou a relação envolvendo anéis de crescimento das árvores”, enfatiza Locosselli.

Tanto ele como Buckeridge destacam a importância do desenvolvimento de pesquisas, com o apoio de instituições como a FAPESP e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), para o avanço da ciência. “Esse tipo de estudo pôde ser realizado porque houve conhecimento acumulado ao longo dos anos. O trabalho de formiguinha é o que gera a cereja do bolo”, afirma Buckeridge.

Atualmente, com o cenário de contenção de gastos públicos, principalmente pós-pandemia de COVID-19, estão em discussão no Brasil projetos que propõem cortes e desvinculação de recursos orçamentários destinados à produção de ciência, desenvolvimento de pesquisas e novas tecnologias. Para se contrapor a essas propostas, cientistas, pesquisadores e estudiosos têm divulgado manifestos e buscado alertar para os riscos ao futuro da ciência.

Aquela ciência que às vezes não entendemos e que talvez hoje tenha uma resposta local pode se unir a outras pesquisas semelhantes e dar uma resposta global amanhã. Nossa pesquisa dá essa visão global”, completa Locosselli.




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quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Pesquisa: Grandes propriedades rurais respondem por 54% do déficit ambiental em São Paulo


Imagem meramente ilustrativa


Tópico 01574

Apesar de representarem apenas 3,5% do total de mais de 340 mil imóveis rurais cadastrados em São Paulo, as grandes propriedades agrícolas – com mais de 15 módulos fiscais – respondem por 54% do déficit ambiental do Estado, ou seja, da perda de áreas de reserva natural.

A estimativa foi feita por pesquisadores participantes de um projeto apoiado pela FAPESP, com o objetivo de fornecer subsídios científicos para a implementação do Programa de Regularização Ambiental no Estado de São Paulo nos próximos 20 anos, seguindo as regras do novo Código Florestal.

Alguns resultados do estudo, desenvolvido no âmbito do Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade (BIOTA-FAPESP), foram apresentados em um encontro on-line realizado em novembro.

Constatamos que os 50% maiores déficits de área de preservação permanente no Estado de São Paulo estão concentrados em propriedades grandes, com mais de 15 módulos fiscais [unidade de medida, em hectares, da área de uma propriedade fiscal com condições para exploração econômica]", disse Kaline de Mello, pós-doutoranda no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) com Bolsa da FAPESP e participante do projeto.

O mesmo padrão se repete em relação ao déficit de reserva legal [área que deve ser mantida com vegetação nativa]”, afirmou Mello.

A fim de estimar o déficit ambiental das propriedades rurais em São Paulo à luz do novo Código Florestal, os pesquisadores fizeram uma modelagem detalhada da malha fundiária do Estado. Para isso, reuniram dados de propriedades rurais registradas até 2019 no Sistema de Cadastro Ambiental Rural (Sicar-SP), de cobertura de vegetação nativa, fitofisionomias, biomas, uso do solo e de hidrografia, obtidos de diversas bases, como a do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do Projeto Radam Brasil (Ministério de Minas e Energia) e da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), além do tamanho dos módulos fiscais dos municípios paulistas, fixados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Por meio do cruzamento dessas camadas de dados com a modelagem de exigências e isenções estabelecidas pelo novo Código Florestal, foi possível estimar os déficits de áreas de preservação permanente e de reservas legais, além dos excedentes de vegetação nativa para cada propriedade rural no Estado de São Paulo, situados em sua maior parte na Mata Atlântica, na região costeira.

São Paulo é o único Estado do país que tem uma modelagem detalhada do Código Florestal com essa precisão e na escala de propriedades rurais”, disse Mello.

A modelagem da malha fundiária paulista indicou que, das 340,6 mil propriedades rurais no Estado de São Paulo, 237,1 mil possuem déficits de área de preservação permanente que totalizam 768,7 mil hectares, sendo 656,7 mil hectares na Mata Atlântica e quase 112 mil hectares em áreas do Cerrado.

Cerca de 85% do déficit de área de preservação permanente está localizado em grandes e médias propriedades rurais. Apesar de representarem a maioria dos imóveis rurais cadastrados no Estado de São Paulo, as propriedades menores – com menos de quatro módulos fiscais – são responsáveis por apenas 15,5% do déficit de área de preservação permanente no Estado.

As grandes propriedades também respondem pela maior parte do déficit de reserva legal. Apenas 1,2 mil propriedades – equivalentes a 0,4% dos imóveis rurais cadastrados em São Paulo – detêm os 50% maiores déficits de reserva legal no Estado, apontou o estudo, sendo 98% desses imóveis maiores que 15 módulos fiscais.

Os resultados do projeto mostram que é preciso empregar diferentes estratégias para promover a regularização ambiental no Estado de São Paulo, que favoreça a coletividade e não um pequeno grupo de proprietários rurais. Não se pode embutir nos pequenos proprietários a responsabilidade pelo déficit ambiental de São Paulo”, avaliou Ricardo Ribeiro Rodrigues, professor da Esalq-USP e participante do projeto.

As propriedades rurais que apresentam os maiores déficits de áreas de preservação permanente e de reserva legal estão concentradas no Oeste paulista e são voltadas à produção de cana-de-açúcar (39%), pastagem (36%), cultivo de outras culturas (17%), silvicultura (7%) e lavouras de soja (2%).

Os dados por município podem ser consultados em uma plataforma de acesso aberto desenvolvida pelos pesquisadores para auxiliar as cidades paulistas a implementar o novo Código Florestal.

Qualquer usuário pode acessar a plataforma. Além disso, estamos trabalhando com uma modelagem refinada para implementação do novo Código Florestal em escala municipal”, disse Mello.


Mecanismos de compensação

Diferentemente das áreas de preservação permanente, que devem ser totalmente restauradas, o novo Código Florestal estabeleceu que o déficit de reserva legal pode ser restaurado na própria propriedade rural ou compensado por meio de áreas de vegetação excedente e de reserva legal disponíveis nos imóveis rurais com até quatro módulos fiscais.

Os pesquisadores estimaram que há 941 mil hectares de área de excedentes de vegetação nativa e de reserva legal nessas pequenas propriedades rurais que podem ser utilizadas para compensar o déficit de 367,4 mil hectares de área de reserva legal no Estado de São Paulo por meio desse mecanismo, chamado Cota de Reserva Ambiental (CRA).

Além disso, há 117 mil hectares de pastagens com baixa aptidão agrícola nas propriedades rurais com déficit de reserva legal que poderiam ser utilizados para restauração.

Cerca de 32% do déficit total de reserva legal no Estado de São Paulo poderia ser abatido apenas por meio da restauração dessas pastagens de baixa aptidão agrícola, que não dão um bom retorno econômico com a criação de gado e não são interessantes para agricultura porque são muito declivosas ou rochosas, onde não é possível a tecnificação”, explicou Mello.

O novo Código Florestal também permite que o déficit de áreas de reserva legal possa ser restaurado incluindo espécies exóticas. O déficit de áreas de preservação permanente das pequenas propriedades também pode ser restaurado por meio do plantio intercalado de espécies nativas e exóticas, de interesse comercial.

Essa forma de restauração, chamada multifuncional, permitiria regularizar 43% – quase 487 mil hectares – do total de 1,14 milhão de hectares do déficit total de reserva legal e de áreas de preservação permanente no Estado de São Paulo, calcularam os pesquisadores.

Além disso, geraria oportunidades de aumento de renda dos produtores, uma vez que 50% das áreas recuperadas de forma multifuncional podem ser exploradas economicamente.

Há um enorme potencial de regularização ambiental em São Paulo sem um custo demasiadamente alto para os proprietários rurais, conciliando a manutenção da atividade agrícola, que é extremamente importante para o Estado, com o interesse ambiental”, avaliou Jean Paul Metzger, professor do IB-USP e participante do projeto.

A fim de auxiliar os proprietários rurais na tomada de decisão de alternativas para compensação de reserva legal, os pesquisadores desenvolveram uma ferramenta dinâmica, que pode ser acessada pela internet.

"É preciso vontade política para utilizar agora essa enorme base de dados e conhecimento para tomar decisões sólidas para a implementação do novo Código Florestal no Estado de São Paulo”, disse Carlos Joly, membro da coordenação do BIOTA-FAPESP.

Na avaliação de Gerd Sparovek, professor da Esalq-USP e coordenador do projeto, o Código Florestal é de suma importância para o desenvolvimento sustentável do Brasil porque 54% da vegetação natural remanescente no país está em áreas privadas e, portanto, deve seguir o Código Florestal. No Estado de São Paulo esse número é maior, atingindo 78%.


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quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Conselho Nacional de Justiça lança o "Observatório do Meio Ambiente do Poder Judiciário"


Imagem meramente ilustrativa

Tópico 01573

Um espaço para acompanhamento e disseminação de informações sobre o meio ambiente para instrumentalizar pesquisas, estudos comparados, análises prospectivas, debates e produção científica. Este é o objetivo do Observatório do Meio Ambiente, cujo lançamento foi feito na terça-feira (10/11/2020), por meio de portaria assinada pelo presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministro Luiz Fux, durante a abertura da 321ª Sessão Ordinária.

Para Fux, instituir o Observatório do Meio Ambiente do Poder Judiciário é um passo importante para a formação de um fórum interdisciplinar, de caráter nacional, criado para ser um canal permanente de diálogo entre o Judiciário e a sociedade civil. “Desde o início da minha gestão à frente da Presidência do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, assumi o compromisso de promover, com prioridade, a atuação do Judiciário voltada para a proteção dos direitos humanos e do meio ambiente, conforme definido no Eixo 1 de nosso plano de gestão”, afirmou.

Pela portaria assinada, o Observatório do Meio Ambiente vai contemplar a promoção do desenvolvimento sustentável e a proteção da biodiversidade da Amazônia Legal evitando retrocessos em matéria ambiental como foco no meio ambiente natural. Além disso, está previsto no documento o estímulo à criação de unidades judiciárias especializadas para o combate às violações do meio ambiente e a tutela das áreas de proteção, das reservas legais e das estações ecológicas.

A proposta é que o espaço possibilite o diálogo interinstitucional e internacional e que contribuía para aumentar as ferramentas de enfrentamento judicial à tutela do meio ambiente, identificar as dificuldades e os gargalos no sistema de Justiça brasileiro e os tribunais que mais atuam com experiências positivas. “Estou certo de que a pluralidade de ideias e a troca de experiências entre os membros do Observatório e as instituições que eles representam apontarão caminhos para avançarmos na tutela do meio ambiente, bem como indicarão”, afirmou Luiz Fux.


Atuação

Caberá ao grupo de trabalho o desenvolvimento de diagnóstico de boas práticas, disseminação de políticas judiciárias, implementação de projetos e iniciativas de tutela do meio ambiente a partir da atuação do Poder Judiciário.

A proposta é que o Observatório se torne um núcleo de referência no acompanhamento e na disseminação de dados e informações que poderão ser integrados ao DataJud, base de dados da Justiça, dando maior celeridade ao Sistema de Justiça no julgamento de ações relacionadas a violações ao meio ambiente.

O Observatório também vai auxiliar na formulação de projetos e diretrizes; elaborar estudos e pareceres sobre questões estratégicas; propor acordos de cooperação; organizar publicações e promover seminários e audiências públicas; além de propor ao CNJ medidas pertinentes e adequadas ao aprimoramento de políticas judiciárias sobre o meio ambiente. Além disso, será possível elaborar produtos para apresentar resultados concretos que contribuam com a tutela judicial do meio ambiente.

O colegiado será presidido pelo ministro Luiz Fux, coordenado pelo secretário especial de Programas, Pesquisas e Gestão Estratégica do CNJ, Marcus Livio Gomes, e composto por conselheiros, juristas, conselheiros, acadêmicos e membros da sociedade civil e de entidades representativas que possuírem experiência ou formação na área ambiental. A primeira reunião do Observatório do Meio Ambiente está prevista para ser realizada no dia 24 novembro.


Webinário internacional

Durante o lançamento do Observatório do Meio Ambiente, o ministro Luiz Fux, comunicou ainda a realização, na próxima terça-feira (17/11), do I Webinário Internacional Brasil-União Europeia: Justiça e Políticas de Proteção Ambiental. Promovido pelo CNJ em parceria com a União Europeia, o evento terá como tema central a troca de experiências na temática de tutela judicial do meio ambiente e nele será apresentado o resultado de estudos que estão sendo desenvolvidos por uma equipe de pesquisadores brasileiros e europeus.

As inscrições para o webinário podem ser feitas até sexta-feira (13/11).


Membros do Observatório do Meio Ambiente

Conselheiros do CNJ:

André Godinho
Candice Jobim
Ministro Emmanoel Pereira
Flávia Pessoa
Ivana Farina
Luiz Fernando Keppen
Marcus Vinícius Jardim Rodrigues
Maria Tereza Uille Gomes
Mário Guerreiro
Rubens Canuto
Tânia Reckziegel


Representantes da sociedade:

Herman Benjamin – ministro do Superior Tribunal de Justiça
Beto Veríssimo – pesquisador e co-fundador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon)
Carlos Bocuhy – presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (PROAM)
Denise Hamú – representante do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)
Denise Hills – diretora de sustentabilidade da Natura
Nabil Moura Kadri – chefe do Departamento do Meio Ambiente e Gestão do Fundo da Amazônia
Sebastião Salgado – fotógrafo e ambientalista





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sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Dica: Filme plástico para proteção de alimentos e superfícies inativa o novo coronavírus


Imagem meramente ilustrativa


Tópico 01572

Um filme plástico de PVC transparente e esticável para embalagem de alimentos, como carnes, frutas e frios, e para proteção de superfícies é capaz de inativar o novo coronavírus.

Comercializado pela indústria de plásticos Alpes, o material possui micropartículas de prata e sílica em sua composição, tecnologia desenvolvida e licenciada pela empresa paulista Nanox, apoiada pelo Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE).

Em testes conduzidos no laboratório de biossegurança de nível 3 (NB3) do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), o material mostrou ser capaz de eliminar 79,9% de partículas do SARS-CoV-2 em três minutos e 99,99% em até 15 minutos.

A eliminação do vírus pelo material foi extremamente eficaz e em um curto tempo. É uma aplicação bem diferenciada dos mais de 40 produtos com ação contra o novo coronavírus que já testamos desde o começo da pandemia”, avalia Lucio Freitas Junior, pesquisador do ICB-USP.

Para testar a ação virucida do filme plástico contra o novo coronavírus foram realizados ensaios seguindo a ISO 21702:2019 – norma técnica de medição da atividade antiviral em plásticos e outras superfícies não porosas, que estabelece que o material tem que demonstrar essa ação em até quatro horas.

As amostras do material com e sem micropartículas de prata e sílica incorporadas na estrutura foram mantidas em contato direto com o SARS-CoV-2 em intervalos de tempo diferentes.

Após os períodos estipulados, os coronavírus presentes nas amostras do material foram recolhidos e colocados em contato com células Vero – linhagem de células comumente utilizadas em culturas microbiológicas, sintetizadas a partir de células isoladas dos rins de uma espécie de macaco – para avaliar a capacidade de infecção e multiplicação após a exposição ao filme plástico.

Os resultados das análises por quantificação do material genético viral por PCR indicaram uma redução de quase 100% das cópias do SARS-CoV-2 que entraram em contato com amostras do filme plástico com as micropartículas de prata e sílica incorporadas após 15 minutos de exposição ao material.

Levando em conta que o filme é utilizado para embalar alimentos que ficam expostos e são muito manipulados em supermercados, 15 minutos para eliminar totalmente o novo coronavírus na superfície do material é um tempo bastante satisfatório”, avalia Luiz Gustavo Pagotto Simões, diretor da Nanox.


Aplicação em plásticos

O filme adesivo é o terceiro material plástico com micropartículas de prata e sílica comercializado pela Nanox para proteger contra a COVID-19 a chegar ao mercado.

Em parceria com a fabricante de brinquedos Elka, a empresa paulista desenvolveu uma máscara reutilizável, feita com um plástico flexível (termoplástico) e o aditivo aplicado na superfície, que promete conferir maior proteção contra o novo coronavírus.

Em setembro, a indústria Promaflex lançou um filme plástico adesivo com o aditivo para proteção de superfícies, que demonstrou ser capaz de eliminar 99,84% de partículas do SARS-CoV-2 após dois minutos de contato.

Uma das principais diferenças do filme plástico para esses dois outros produtos é a concentração de micropartículas de prata e sílica na composição. Como o material é usado como embalagem de alimentos, a quantidade do aditivo adicionado é menor.

Como as micropartículas de prata têm registro do FDA [agência regulamentadora de alimentos e fármacos dos Estados Unidos] e integram uma lista positiva da Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], há um limite máximo do aditivo que pode ser adicionado em materiais usados como embalagens de alimentos para impedir a migração da prata. Por isso, a concentração do aditivo nesse tipo de material plástico tem que ser um pouco menor”, explica Simões.

Por meio de melhorias no processo de produção das micropartículas cerâmicas com prata feitas pela Nanox nos últimos anos foi possível melhorar a dispersão do aditivo em filmes plásticos. A melhoria permitiu colocar uma quantidade muito menor de prata no material e aumentar a eficiência antimicrobiana do aditivo, mantendo a transparência, afirma Simões.

Os filmes plásticos de PVC precisam ter muita transparência e se tiver uma concentração muito alta de micropartículas de prata podem ficar amarelos ou acinzentados. A tecnologia que desenvolvemos evita esse problema”, afirma Simões.

Além de produtos à base de plástico, a tecnologia provou ser eficaz na inativação do novo coronavírus em outras aplicações, como em tecidos compostos por uma mistura de fibras naturais e sintéticas.

O aditivo tem sido utilizado em roupas e tecidos fabricados por empresas como a Santista, o grupo Malwee, a Cedro Têxtil e a Delfim Tecidos, entre diversas outras, mediante contrato de licenciamento da marca Nanox.

Também estamos obtendo boas respostas em estudos para avaliação da aplicação da solução em matérias-primas utilizadas no setor de construção civil, como MDF para pisos laminados e tintas”, diz Simões.


Novos mercados

A Alpes comercializa desde 2014 o filme plástico com as micropartículas de prata para embalagem de alimentos em supermercados e para uso doméstico, com o intuito de conferir proteção contra fungos e bactérias. Com a pandemia de COVID-19, a empresa buscou avaliar se o material também seria capaz de eliminar o SARS-CoV-2.

Os filmes plásticos são vistos como commodity e a decisão de compra pelo consumidor na maioria das vezes é baseada no preço. Com a aplicação do aditivo da Nanox quisemos conferir um diferencial ao produto e um benefício extra para o consumidor”, diz Alessandra Zambaldi, diretora de comércio exterior e marketing da Alpes.

Uma das três maiores fabricantes de filmes plásticos de PVC do país, a empresa produz hoje 450 toneladas por mês do material e está planejando aumentar em 20% sua capacidade produtiva até o final do primeiro semestre de 2021.

Com a pandemia de COVID-19, a empresa identificou novos mercados para aplicação do produto, como proteção de superfícies, como de máquinas de cartões de débito e crédito, maçanetas, corrimãos, teclados de computadores e telas sensíveis ao toque.

O produto também é utilizado para recobrir a pele após a realização de tatuagens e procedimentos estéticos.

Ao identificarmos o uso do filme plástico para essa finalidade, fizemos testes para garantir que é hipoalergênico”, conta Zambaldi.


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quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Instituto de Botânica cria modelos para prever os impactos do clima e da urbanização no Cinturão Verde de São Paulo


Imagem ilustrativa. Divulgação: Instituto de Botânica de São Paulo


Tópico 01571

Pesquisadores do Instituto de Botânica vão estudar os efeitos das mudanças climáticas, da poluição e do uso do solo na vegetação nativa ainda existente na cidade de São Paulo e em mais de 70 municípios vizinhos. A ideia é desenvolver modelos capazes de prever cenários para os próximos 30 anos, a partir de dados históricos, estudos de campo e simulações em laboratório.

O estudo multidisciplinar tem por objetivo avaliar o nível de conservação da biodiversidade na Reserva da Biosfera do Cinturão Verde de São Paulo e também de seus serviços ecossistêmicos como controle da qualidade e do fluxo da água, regulação climática e estocagem de carbono. A ideia é que, com base nos resultados das pesquisas, a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo possa desenvolver políticas públicas e regulamentações para a área.

Reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como patrimônio da humanidade em 1993, a Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo inclui remanescentes da Mata Atlântica e de Cerrado, parques naturais urbanos, reservas estaduais, estações ecológicas, áreas de proteção de água doce e da vida silvestre e também áreas urbanas. 

A área é considerada um hotspot para a conservação da biodiversidade e abrange 73 municípios em torno da capital paulista.

O principal foco do projeto, estruturado em nove módulos, é a integração das áreas de pesquisa em botânica. Afinal, a reserva é um ecossistema que funciona como uma grande rede interconectada. E notamos que também estamos trabalhando mais interligados agora com a nova infraestrutura e a central de equipamentos multiusuários”, diz Luiz Mauro Barbosa , diretor do Instituto de Botânica.

O projeto começou a ser concebido em abril de 2018, quando o Instituto, vinculado à Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, foi aprovado no edital do Programa de Modernização de Institutos Estaduais de Pesquisa da FAPESP. No âmbito dessa iniciativa, a Fundação destinou um total de R$ 120 milhões para a modernização da infraestrutura de pesquisa e a capacitação de pessoal para 12 instituições paulistas.

A região estudada é muito populosa, com inúmeros fragmentos de vegetação nativa. “A população que vive nos municípios do entorno já sofre com aumento de temperatura [mudanças climáticas], altos índices de poluição atmosférica e urbanização desordenada. É também uma área que se beneficia com os serviços ecossistêmicos da reserva. Vamos mensurar como será dada essa relação nos próximos anos e qual o papel da conservação da biodiversidade nos ecossistemas terrestres e aquáticos para melhoria da qualidade de vida da população”, afirma Marisa Domingos , pesquisadora do Instituto de Botânica.


Fortalecimento da pesquisa

O apoio da FAPESP envolve, além do financiamento de bolsas de pesquisa e do fortalecimento de parcerias internacionais, o melhoramento de laboratórios e informatização e manutenção de coleções científicas, como as do herbário do Instituto de Botânica, com mais de 500 mil exsicatas (amostra de planta prensada e seca em estufa) da flora brasileira.

O Museu Botânico Dr. João Barbosa Rodrigues – interface do Instituto com a comunidade – também está sendo modernizado e receberá uma exposição voltada às atividades de educação ambiental e comunicação da ciência. Integra o projeto ainda o desenvolvimento de sistema digital para integração de dados dos diversos setores da pesquisa científica. O Museu está instalado dentro da área do Jardim Botânico. 

Os recursos para a melhoria física das instalações são provenientes da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Já a compra de equipamentos para estruturação da central multiusuária e o custeio das atividades de pesquisa, como a digitalização e modelagem, são apoiados pela FAPESP.

É um projeto amplo que passa na escala macro pelo diagnóstico da biodiversidade, análise estrutural e funcional de comunidades e restauração ecológica. Já na escala micro, buscamos identificar biomarcadores químicos, fisiológicos e biomoleculares. Tudo isso associado ao contexto da educação ambiental”, relata Emerson Alves da Silva , presidente do Núcleo de Inovação Tecnológica do Instituto de Botânica.


Passado, presente e futuro

A construção de cenários sobre o que poderá ocorrer nos próximos anos sob os impactos climáticos, de poluição e de perda de hábitat parte de três tipos de estudo.

O primeiro deles são os diagnósticos observacionais realizados por pesquisa de campo. Um grupo multidisciplinar está analisando diferentes grupos taxonômicos, como algas, bromélias, epífitas, árvores pioneiras e não pioneiras que habitam a vegetação nativa remanescente na região da reserva.

Pretendemos identificar quais espécies são mais ou menos adaptáveis a esses impactos e que efeitos a variação de suas populações podem acarretar no ecossistema e nas cidades. É uma região que sofre forte pressão antrópica e queremos descobrir, entre os diversos estressores ambientais, climáticos e poluentes, quais proporcionam mais mudanças na biodiversidade. Queremos entender também se haverá efeitos aditivos, sinérgicos ou antagônicos, pois a ideia é pensar numa perspectiva futura da conservação da biodiversidade”, diz Domingos.

O segundo tipo de estudo parte do uso de dados e de séries temporais preexistentes. “São dados históricos de temperatura e poluição obtidos em bancos de dados ou por testemunhos de sedimentos, que recontam a história da urbanização nessa região. Temos também dados, por exemplo, das condições químicas e de biodiversidade de algas. Por mais de 20 anos, os pesquisadores acompanharam as comunidades de algas de um lago e fazem associações com as condições químicas de eutrofização [crescimento excessivo de plantas aquáticas, que reduz o nível de oxigênio da água e causa a morte de espécies]”, explica Domingos.

O estudo do lago eutrofizado, que recebe cargas de esgoto, e as mudanças nas condições químicas da água e da comunidade de algas também dão pistas importantes sobre o que aconteceu nas cidades ao longo dos anos e como essas mudanças impactaram a comunidade de algas.

Por fim, a partir dos dados históricos e observacionais, os pesquisadores vão fazer simulações em laboratório e então criar os modelos preditivos. “Dentre tantos fatores, é difícil imaginar qual estaria afetando mais uma determinada população. Então no laboratório conseguimos simular as condições, por exemplo, da temperatura atual em um ambiente e comparar com o que vai acontecer daqui a 20 ou 30 anos”, diz.

O objetivo é compreender não só os efeitos da urbanização nos fragmentos de floresta, mas como a perda do Cinturão Verde pode impactar a vida nas cidades.

Silva compara a modelagem de conservação da biodiversidade a uma equação. “Essa equação tem várias incógnitas que precisam ser respondidas. No entanto, para que se consiga prever o que vai acontecer nos próximos anos, só trazendo para essa equação elementos de diversos níveis – como informações sobre plantas, algas e fungos do ecossistema aquático e terrestre, além de dados climáticos e de poluição. É o que estamos fazendo e esperamos que o volume de dados que temos e estamos produzindo torne essas predições as mais confiáveis possíveis”.


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