Powered By Blogger

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

ALERTA: Temperatura alta e clima seco alteram tempo de vida de árvores em florestas tropicais


Imagem meramente ilustrativa

Tópico 01575

Temperaturas elevadas e o clima mais seco que vêm sendo registrados com maior frequência nos últimos anos em vários países estão afetando a dinâmica das florestas tropicais, como Amazônia e Mata Atlântica. Sob essas condições climáticas, as árvores morrem mais rapidamente.

Em biomas nos trópicos elas já crescem, em média, duas vezes mais rápido do que as de florestas temperadas e boreais e vivem menos – 186 anos, em média, contra 322 anos, respectivamente. As florestas tropicais úmidas abrigam cerca de 50% das espécies de animais terrestres e plantas do planeta, apesar de representarem apenas 7% da área terrestre mundial.

Como a previsão é de que a temperatura global continue subindo – ao menos 1,5 °C acima do nível pré-industrial (1850-1900) nas próximas décadas –, isso pode provocar mudanças nas características de cada um desses biomas tropicais, resultando, no futuro, em alterações da biodiversidade e diminuição do número de espécies.

Também deve afetar o papel que essas árvores desempenham nos estoques de carbono (CO2), levantando preocupações em relação à capacidade de absorção desse gás de efeito estufa no futuro. As florestas são o maior reservatório de biomassa terrestre, principalmente as tropicais, responsáveis pela metade desse estoque.

Para se desenvolverem, as plantas precisam de uma grande quantidade de CO2 na fase de crescimento. Com isso, acabam processando por meio da fotossíntese cerca de um quinto do total anual do carbono atmosférico. Assim, pequenas mudanças no funcionamento da floresta podem alterar significativamente os níveis desse gás.

Esse cenário de redução da longevidade ligada a efeitos climáticos em biomas tropicais está traçado em estudo liderado por pesquisadores brasileiros e publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), da Academia Norte-Americana de Ciências.

De acordo com a pesquisa, “nas planícies tropicais quentes foram encontradas diminuições consistentes na longevidade das árvores em locais secos e com temperaturas médias anuais acima de 25,4Ë?C”.

Observamos no estudo que, quando a temperatura média passa dos 25,4°C, a taxa de crescimento está num pico, em patamar alto, e a longevidade diminui. É um efeito além do esperado pela relação negativa entre crescimento e longevidade das árvores. Mas também está ligado à disponibilidade hídrica. Quando o local seca, cria um estresse na planta. Então ela atinge tamanhos menores e morre mais jovem, mesmo sendo uma espécie que poderia ficar maior”, explicou à Agência FAPESP Giuliano Locosselli, atualmente pesquisador do Instituto de Botânica.

Ele é primeiro autor juntamente com Marcos Buckeridge, professor e diretor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP), que resultou de um projeto de pesquisa apoiado pela FAPESP.

Locosselli também foi um dos autores de outra pesquisa, publicada recentemente na revista Nature Communications, que já havia apontado relação inversa entre a taxa de crescimento das árvores e a longevidade, independentemente da espécie e do local onde se encontram. Agora, o novo estudo coloca lupa sobre o comportamento em florestas tropicais e aponta o papel do clima e da disponibilidade hídrica nesses quadros.

Ao ser questionado sobre como ficariam essas árvores diante de estimativas de agências ligadas às Nações Unidas (ONU) de que a temperatura média da Terra pode subir mais de 1,5 °C até 2050, Buckeridge afirma que a forma de evitar um cenário pior para os biomas seria bloquear o aquecimento global.

Porém, ele lembra que há o fenômeno da inércia, ou seja, mesmo se agora fossem suspensas todas as emissões de gases de efeito estufa que provocam o aquecimento, a temperatura ainda assim manteria a tendência de alta por um período. “Acho que o cenário dos 25,4 °C [utilizado no estudo] não tem mais como reverter.

No ponto em que estamos é preciso trabalhar com medidas de mitigação das mudanças climáticas e de adaptação, como plantar novas árvores”, avalia o professor, que participou como autor no relatório especial Mundo em Aquecimento de 1,5 °C, do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), da ONU.

Já Locosselli cita o caso da floresta do Congo, a segunda maior tropical do mundo, só atrás da Amazônia. “Atualmente ela ainda não é afetada pelo efeito da temperatura, como já se viu na região amazônica. Mas, a partir desse grande aumento de temperatura, começaremos a observar sinais de elevação da mortalidade. Isso vai ao encontro do que vimos no nosso estudo. Sob esse ponto de vista, o cenário é bastante sombrio”, completa.

Documento divulgado pela Organização Meteorológica Mundial (WMO, na sigla em inglês) apontou que a temperatura média global entre 2016 e 2020 (de janeiro a julho) está entre as mais quentes do que qualquer outro período.

Atualmente, é estimada em 1,1 °C acima da era pré-industrial e 0,24 °C mais quente do que a média global para 2011-2015. Além disso, dados das agências norte-americanas Nasa e National Oceanographic and Atmospheric Administration (NOAA) apontaram os anos de 2016 e 2019 como o primeiro e o segundo mais quentes de todos os tempos, respectivamente.


Metodologia

Para realizar o estudo Global tree-ring analysis reveals rapid decrease in tropical tree longevity with temperature, o grupo de Locosselli e Buckeridge avaliou dados de anéis de crescimento de mais de 100 mil árvores no mundo. Cada um desses anéis, localizados nos troncos, representa um ano de vida da planta, permitindo uma estimativa da idade das árvores e da velocidade (taxa) de crescimento. Também foi analisado como o clima influencia no tempo de vida.

Esses efeitos independentes da temperatura e da disponibilidade de água na longevidade das árvores nos trópicos são consistentes com as previsões teóricas de aumentos nas demandas evaporativas no nível da folha sob um clima mais quente e seco, e podem explicar os aumentos observados na mortalidade de árvores em florestas tropicais, incluindo a Amazônia, e mudanças na composição da floresta na África Ocidental”, escrevem os pesquisadores no artigo da PNAS.

Segundo Buckeridge, além das altas temperaturas, a maior quantidade de CO2 na atmosfera contribui para acelerar a atividade metabólica das plantas. Na última década, houve um crescimento de 1,5% ao ano nas emissões de gases de efeito estufa, incluindo o carbono.

Em grande parte foram provocadas por fontes fósseis de energia e alterações no uso da terra, como o desmatamento e as queimadas, de acordo com o relatório Lacuna de Emissões 2019, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

Os pesquisadores explicam que em áreas frequentemente atingidas por queimadas a longevidade das árvores é consideravelmente menor. Essa variável chegou a ser analisada, mas, por questões metodológicas, ficou fora do estudo.

Neste ano, por exemplo, dois dos biomas brasileiros já registraram recorde de focos de incêndio, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Até outubro, o Pantanal teve o pior ano desde 1998, quando o instituto começou a monitorar focos ativos de fogo no local, e na Amazônia o número de ocorrências nos primeiros dez meses de 2020 superou o total de 2019.


Trabalho de formiguinha

O estudo liderado pelo grupo brasileiro teve a colaboração de pesquisadores de universidades britânica, como a de Leeds, alemã e chilena. Levou cerca de quatro anos para ficar pronto e envolveu especialistas de diferentes áreas.

Esse trabalho traz uma visão global, com dados, por exemplo, de bancos públicos de pesquisa e de mais de 200 estudos científicos. Neste sentido, seria impossível realizá-lo 10, 20 anos atrás porque não havia muitos estudos sobre florestas tropicais ou a relação envolvendo anéis de crescimento das árvores”, enfatiza Locosselli.

Tanto ele como Buckeridge destacam a importância do desenvolvimento de pesquisas, com o apoio de instituições como a FAPESP e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), para o avanço da ciência. “Esse tipo de estudo pôde ser realizado porque houve conhecimento acumulado ao longo dos anos. O trabalho de formiguinha é o que gera a cereja do bolo”, afirma Buckeridge.

Atualmente, com o cenário de contenção de gastos públicos, principalmente pós-pandemia de COVID-19, estão em discussão no Brasil projetos que propõem cortes e desvinculação de recursos orçamentários destinados à produção de ciência, desenvolvimento de pesquisas e novas tecnologias. Para se contrapor a essas propostas, cientistas, pesquisadores e estudiosos têm divulgado manifestos e buscado alertar para os riscos ao futuro da ciência.

Aquela ciência que às vezes não entendemos e que talvez hoje tenha uma resposta local pode se unir a outras pesquisas semelhantes e dar uma resposta global amanhã. Nossa pesquisa dá essa visão global”, completa Locosselli.




Confira também;

                                                   
*********************************************************************************************************************

 ORGULHO DE SER GRADUADO NA
         




*********************************************************************************************************************

Celebrando a marca de mais de trezentas mil visualizações do blog Gestão Ambiental da UNISANTOS.

*********************************************************************************************************************

VISITE O SITE OFICIAL DA UNISANTOS. ACESSE : WWW.UNISANTOS.BR

O BLOG GESTÃO AMBIENTAL RETORNARÁ EM BREVE COM NOVOS TÓPICOS.
*********************************************************************************************************************

Link desta postagem ;

https://3gestaoambiental-unisantos.blogspot.com/2020/12/alerta-temperatura-alta-e-clima-seco.html
                                                   
*********************************************************************************************************************

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Pesquisa: Grandes propriedades rurais respondem por 54% do déficit ambiental em São Paulo


Imagem meramente ilustrativa


Tópico 01574

Apesar de representarem apenas 3,5% do total de mais de 340 mil imóveis rurais cadastrados em São Paulo, as grandes propriedades agrícolas – com mais de 15 módulos fiscais – respondem por 54% do déficit ambiental do Estado, ou seja, da perda de áreas de reserva natural.

A estimativa foi feita por pesquisadores participantes de um projeto apoiado pela FAPESP, com o objetivo de fornecer subsídios científicos para a implementação do Programa de Regularização Ambiental no Estado de São Paulo nos próximos 20 anos, seguindo as regras do novo Código Florestal.

Alguns resultados do estudo, desenvolvido no âmbito do Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade (BIOTA-FAPESP), foram apresentados em um encontro on-line realizado em novembro.

Constatamos que os 50% maiores déficits de área de preservação permanente no Estado de São Paulo estão concentrados em propriedades grandes, com mais de 15 módulos fiscais [unidade de medida, em hectares, da área de uma propriedade fiscal com condições para exploração econômica]", disse Kaline de Mello, pós-doutoranda no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) com Bolsa da FAPESP e participante do projeto.

O mesmo padrão se repete em relação ao déficit de reserva legal [área que deve ser mantida com vegetação nativa]”, afirmou Mello.

A fim de estimar o déficit ambiental das propriedades rurais em São Paulo à luz do novo Código Florestal, os pesquisadores fizeram uma modelagem detalhada da malha fundiária do Estado. Para isso, reuniram dados de propriedades rurais registradas até 2019 no Sistema de Cadastro Ambiental Rural (Sicar-SP), de cobertura de vegetação nativa, fitofisionomias, biomas, uso do solo e de hidrografia, obtidos de diversas bases, como a do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do Projeto Radam Brasil (Ministério de Minas e Energia) e da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), além do tamanho dos módulos fiscais dos municípios paulistas, fixados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Por meio do cruzamento dessas camadas de dados com a modelagem de exigências e isenções estabelecidas pelo novo Código Florestal, foi possível estimar os déficits de áreas de preservação permanente e de reservas legais, além dos excedentes de vegetação nativa para cada propriedade rural no Estado de São Paulo, situados em sua maior parte na Mata Atlântica, na região costeira.

São Paulo é o único Estado do país que tem uma modelagem detalhada do Código Florestal com essa precisão e na escala de propriedades rurais”, disse Mello.

A modelagem da malha fundiária paulista indicou que, das 340,6 mil propriedades rurais no Estado de São Paulo, 237,1 mil possuem déficits de área de preservação permanente que totalizam 768,7 mil hectares, sendo 656,7 mil hectares na Mata Atlântica e quase 112 mil hectares em áreas do Cerrado.

Cerca de 85% do déficit de área de preservação permanente está localizado em grandes e médias propriedades rurais. Apesar de representarem a maioria dos imóveis rurais cadastrados no Estado de São Paulo, as propriedades menores – com menos de quatro módulos fiscais – são responsáveis por apenas 15,5% do déficit de área de preservação permanente no Estado.

As grandes propriedades também respondem pela maior parte do déficit de reserva legal. Apenas 1,2 mil propriedades – equivalentes a 0,4% dos imóveis rurais cadastrados em São Paulo – detêm os 50% maiores déficits de reserva legal no Estado, apontou o estudo, sendo 98% desses imóveis maiores que 15 módulos fiscais.

Os resultados do projeto mostram que é preciso empregar diferentes estratégias para promover a regularização ambiental no Estado de São Paulo, que favoreça a coletividade e não um pequeno grupo de proprietários rurais. Não se pode embutir nos pequenos proprietários a responsabilidade pelo déficit ambiental de São Paulo”, avaliou Ricardo Ribeiro Rodrigues, professor da Esalq-USP e participante do projeto.

As propriedades rurais que apresentam os maiores déficits de áreas de preservação permanente e de reserva legal estão concentradas no Oeste paulista e são voltadas à produção de cana-de-açúcar (39%), pastagem (36%), cultivo de outras culturas (17%), silvicultura (7%) e lavouras de soja (2%).

Os dados por município podem ser consultados em uma plataforma de acesso aberto desenvolvida pelos pesquisadores para auxiliar as cidades paulistas a implementar o novo Código Florestal.

Qualquer usuário pode acessar a plataforma. Além disso, estamos trabalhando com uma modelagem refinada para implementação do novo Código Florestal em escala municipal”, disse Mello.


Mecanismos de compensação

Diferentemente das áreas de preservação permanente, que devem ser totalmente restauradas, o novo Código Florestal estabeleceu que o déficit de reserva legal pode ser restaurado na própria propriedade rural ou compensado por meio de áreas de vegetação excedente e de reserva legal disponíveis nos imóveis rurais com até quatro módulos fiscais.

Os pesquisadores estimaram que há 941 mil hectares de área de excedentes de vegetação nativa e de reserva legal nessas pequenas propriedades rurais que podem ser utilizadas para compensar o déficit de 367,4 mil hectares de área de reserva legal no Estado de São Paulo por meio desse mecanismo, chamado Cota de Reserva Ambiental (CRA).

Além disso, há 117 mil hectares de pastagens com baixa aptidão agrícola nas propriedades rurais com déficit de reserva legal que poderiam ser utilizados para restauração.

Cerca de 32% do déficit total de reserva legal no Estado de São Paulo poderia ser abatido apenas por meio da restauração dessas pastagens de baixa aptidão agrícola, que não dão um bom retorno econômico com a criação de gado e não são interessantes para agricultura porque são muito declivosas ou rochosas, onde não é possível a tecnificação”, explicou Mello.

O novo Código Florestal também permite que o déficit de áreas de reserva legal possa ser restaurado incluindo espécies exóticas. O déficit de áreas de preservação permanente das pequenas propriedades também pode ser restaurado por meio do plantio intercalado de espécies nativas e exóticas, de interesse comercial.

Essa forma de restauração, chamada multifuncional, permitiria regularizar 43% – quase 487 mil hectares – do total de 1,14 milhão de hectares do déficit total de reserva legal e de áreas de preservação permanente no Estado de São Paulo, calcularam os pesquisadores.

Além disso, geraria oportunidades de aumento de renda dos produtores, uma vez que 50% das áreas recuperadas de forma multifuncional podem ser exploradas economicamente.

Há um enorme potencial de regularização ambiental em São Paulo sem um custo demasiadamente alto para os proprietários rurais, conciliando a manutenção da atividade agrícola, que é extremamente importante para o Estado, com o interesse ambiental”, avaliou Jean Paul Metzger, professor do IB-USP e participante do projeto.

A fim de auxiliar os proprietários rurais na tomada de decisão de alternativas para compensação de reserva legal, os pesquisadores desenvolveram uma ferramenta dinâmica, que pode ser acessada pela internet.

"É preciso vontade política para utilizar agora essa enorme base de dados e conhecimento para tomar decisões sólidas para a implementação do novo Código Florestal no Estado de São Paulo”, disse Carlos Joly, membro da coordenação do BIOTA-FAPESP.

Na avaliação de Gerd Sparovek, professor da Esalq-USP e coordenador do projeto, o Código Florestal é de suma importância para o desenvolvimento sustentável do Brasil porque 54% da vegetação natural remanescente no país está em áreas privadas e, portanto, deve seguir o Código Florestal. No Estado de São Paulo esse número é maior, atingindo 78%.


Confira também;

                                                   
*********************************************************************************************************************

 ORGULHO DE SER GRADUADO NA
         


Compartilhe sua história: unisantos.br/euamo


*********************************************************************************************************************

Celebrando a marca de mais de trezentas mil visualizações do blog Gestão Ambiental da UNISANTOS.

*********************************************************************************************************************

VISITE O SITE OFICIAL DA UNISANTOS. ACESSE : WWW.UNISANTOS.BR

O BLOG GESTÃO AMBIENTAL RETORNARÁ EM BREVE COM NOVOS TÓPICOS.
*********************************************************************************************************************

Link desta postagem ;

https://3gestaoambiental-unisantos.blogspot.com/2020/12/pesquisa-grandes-propriedades-rurais.html
                                                   
*********************************************************************************************************************