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segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Pesquisas deverão amparar políticas ambientais


Imagem meramente ilustrativa

Tópico 01531

Como diminuir os conflitos entre humanos e mamíferos silvestres nas propriedades rurais? Qual é o papel da floresta na geração de água para a bacia hidrográfica e quais espécies florestais – nativas e cultivadas – podem ser mais interessantes para o ambiente e a economia? Quais são as práticas e os usos socioeconômicos e culturais do interior e do entorno das unidades de conservação?

Essas questões científicas, essenciais para a elaboração de políticas ambientais, devem ser respondidas por quatro projetos de pesquisa apoiados pela FAPESP no âmbito do convênio com o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês), administrado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Os projetos foram apresentados durante reunião ocorrida na sede da Fundação no dia 8 de outubro, com a presença das outras partes signatárias do acordo, como Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo e Fundação Florestal.

As pesquisas fazem parte do “Componente 1” do projeto “Conexão Mata Atlântica”, que é gerido pelo MCTIC e busca estabelecer o pagamento por serviços ecossistêmicos nos municípios que compõem a bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul, em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

O pagamento por serviços ambientais e ecossistêmicos consiste em gerar renda para produtores rurais que, ao realizarem conservação florestal e preservação de nascentes, por exemplo, contribuem para a polinização, geração de água, lazer e outros serviços providos pelo meio ambiente.

A ideia deste encontro foi integrar os pesquisadores selecionados na primeira chamada com os órgãos ambientais dos três estados que são executores do projeto ‘Conexão Mata Atlântica’, acordo do qual a FAPESP é signatária desde 2016. A contrapartida da FAPESP é o financiamento de pesquisas científicas que auxiliem na geração de uma base de dados de carbono e biodiversidade e com sistemas de monitoramento e avaliação de serviços ecossistêmicos”, disse Bruna Cersózimo Arenque Musa, coordenadora de Programas Científicos da FAPESP e gestora do acordo FAPESP-GEF.

As pesquisas apoiadas visam solucionar problemas enfrentados na gestão de unidades de conservação. “É um momento muito interessante, pois vemos a ciência apoiando a tomada de decisão e as ações de manejo voltadas para a conservação da biodiversidade e a provisão de serviços ecossistêmicos”, disse Jean Paul Metzger, professor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) e membro da coordenação do Programa BIOTA-FAPESP.


Projetos

Coordenado por Katia Maria Paschoaletto Micchi de Barros Ferraz, professora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, o projeto “Padrões de diversidade biológica e coexistência humano-fauna: componentes que sustentam os serviços ecossistêmicos” estuda formas de diminuir os conflitos entre moradores de propriedades rurais e mamíferos silvestres, muitas vezes vistos como inimigos por atacarem animais domésticos ou plantações.

Com métodos das ciências sociais, principalmente da psicologia, buscamos entender como as pessoas se relacionam com a fauna, o que sentem em relação a ela e o que sabem a respeito. A partir daí, elaboramos estratégias mais eficazes de mudança de comportamento para a conservação dessa fauna, que presta importantes serviços ecossistêmicos”, disse Silvio Marchini, pesquisador da Esalq-USP e membro do projeto, que representou Ferraz no evento.

Uma outra pesquisa apresentada busca compreender o papel da floresta na geração de água para a bacia hidrográfica. Ao mesmo tempo que é inegável o valor da floresta em pé, ainda persistem dúvidas acerca da influência das árvores em crescimento sobre o aporte de água superficial e subterrânea.

Evidências empíricas e resultados de pesquisas sugerem que a transpiração da floresta retira do solo parte da água que fluiria para os rios, produzindo vazão. No entanto, a maior parte desses resultados não foi obtida a partir do uso de sensores que medem diretamente a transpiração das plantas.

Determinar a relação entre taxa de transpiração e crescimento da biomassa, ao nível de indivíduo, para espécies da Mata Atlântica é o objetivo do projeto coordenado por Laura de Simone Borma, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Algumas pesquisas dão conta de que a floresta pode, em um determinado período do seu crescimento, diminuir o volume de água no rio. Estudos mais recentes, porém, apontam que é possível atingir um nível ótimo de produtividade hídrica com um nível intermediário de cobertura florestal. Atualmente, existem poucos dados que permitam comprovar ou não a existência desse padrão. Com o auxílio de sensores que medem o uso de água de um indivíduo [árvore] ao longo do seu crescimento, associados a medidas de taxas de infiltração da água de chuva, a proposta é investigar o trade-off entre transpiração da mata nativa e infiltração”, disse Borma.

Por sua vez, Maria Teresa Vilela Nogueira Abdo, pesquisadora da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), busca compreender o crescimento e o rendimento de espécies arbóreas, a fim de entender quais podem ser mais interessantes para o cultivo pelos agricultores da região de Pindamonhangaba e todo o Vale do Paraíba, com a possibilidade de estender, no futuro, para a região de Pindorama, noroeste do estado. O projeto busca integrar a conservação da floresta com a sustentabilidade econômica.

Identificar o valor dado pela população aos serviços ecossistêmicos é o objetivo do Projeto ELOS, coordenado por Wilson Cabral de Sousa Júnior, do Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA). Em conjunto com lideranças formais e não formais das comunidades, os pesquisadores buscarão construir indicadores socioeconômicos e culturais para serem levados em conta em futuros pagamentos por serviços ecossistêmicos. O escopo foi apresentado por Eliane Simões, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).




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