Tópico 01382
O estudante mineiro Daniel Drumond, 23 anos, saiu de Belo Horizonte para morar em São Paulo há quatro anos. Sua ideia de cursar Publicidade e Propaganda na Universidade de São Paulo (USP), curso que está concluindo. Esbarrou em uma paixão: o cinema documental.
Atuando na área de forma independente e ainda em início de carreira, ele teve duas das suas três produções, Carne e Casca e Uma pontinha de sabores, ambas de 2016, selecionadas para compor o Circuito Tela Verde (CTV).
O CTV é uma iniciativa do Ministério do Meio Ambiente, por meio do Departamento de Educação Ambiental (DEA) da Secretaria de Articulação Institucional, em parceria com a Secretaria do Audiovisual (SAV), do Ministério da Cultura.
O Circuito promove regularmente a Mostra Nacional de Produção Audiovisual Independente, que exibe vídeos de conteúdo socioambiental em todo território nacional e até fora do país. Desde 2009, o projeto já teve sete edições, 322 vídeos selecionados e 8.734 espaços exibidores.
“Estou feliz demais. Começo com o pé direito minha carreira documental – atuando com uma temática que me interessa demais, meio ambiente, e fazendo parte do Circuito Tela Verde”, conta Daniel, conhecido como Dani Drumond.
Tudo começou quando ele foi selecionado para fazer um curso promovido pelo projeto francês Ateliers Varan em Pernambuco, onde deveria escolher o tema para a realização de um documentário. Teve três dias para aceitar a proposta e se mudar de São Paulo para Recife. “Não conhecia a cidade e descobri, olhando no mapa, a Ilha de Deus, uma comunidade de pescadores e catadores de mariscos, inserida no centro da cidade, mas praticamente desconhecida”.
A ilha tem cerca de dois mil habitantes e fica no Parque dos Manguezais, reserva estuarina da Bacia do Pina. Daniel passou dois meses morando lá, com apoio de uma ONG local, com o objetivo de se inserir na realidade dos seus habitantes, ao tempo em que buscava tornar sua câmera invisível para interferir o mínimo possível nos costumes da comunidade.
O resultado é um filme com pouco mais de 25 minutos em que acompanha Mosquito, como é chamado o pescador José Joaquim, morador mais antigo do lugar, sua família e rotina de trabalho, desde o amanhecer, quando entram no rio, passando pelo beneficiamento artesanal do produto até chegar à venda. “O pescador vive sem noção do tempo. Não tem hora certa para nada, para acordar, para comer”, reflete Mosquito.
A narrativa central é perpassada por problemas ambientais que ameaçam a continuidade do trabalho, como a poluição e o assoreamento do rio e, sociais, como a preocupação de Mosquito com o futuro dos netos.
Sabores
Com Uma Pontinha de Sabores, um vídeo institucional que aborda os resultados do Projeto Pequi, Daniel Drumond documenta a relação dos moradores da comunidade quilombola de Pontinha, em Paraopebas, região central de Minas Gerais, com o fruto típico do Cerrado.
Historicamente o pequi tinha menos valor do que a extração do minhocuçu, espécie de minhoca gigante que serve como isca para pesca e que corria risco de extinção. Com o projeto, a relação vem mudando e a comunidade tem se dedicado a valorizar e beneficiar a fruta, pelo uso sustentável, gerando trabalho e renda. Além de cuidar das árvores e produzir mudas que garantam a sua continuidade.
De acordo com Daniel, as minhocas se reproduzem na safra do pequi. Então, agora as duas atividades estão sendo executadas e no período certo.
“A comunidade passou a ter outra relação com o bioma como um todo e hoje já são pessoas diferentes. Nos dois casos, tanto em Pernambuco quanto em Minas, percebemos um empoderamento dos atores sociais depois do trabalho documental”, afirma.
Quanto vale 1/3 ?
É a pergunta que dá título ao média-metragem de Lucas Gayoso de Moura Ernest Dias e Camila Nogueira, produzido como trabalho de conclusão do curso de Ciências Ambientais, da Universidade de Brasília (UnB), e também selecionado pelo Circuito Tela Verde.
O filme se baseia em estudo da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), divulgado em 2013 e revisado em 2015, que aponta que 1/3 dos alimentos produzidos no mundo são desperdiçados ao longo do processo produtivo, desde a produção agrícola até o consumidor final.
A produção foi exibida no Encontro Nacional de Estudantes de Ciências Ambientais, na Universidade Federal Fluminense, em Niterói-RJ, no ano passado, e está inscrita no Festival Internacional de Cinema Ambiental (FICA), que acontece na cidade de Goiás, em junho de 2017.
A inclusão no CTV significou o reconhecimento a um trabalho árduo e foi “motivo de alegria e orgulho” para a equipe envolvida, conta Lucas.
Segundo ele, o trabalho foi colaborativo – equipamentos de captação de som e imagem foram emprestados, imagens de arquivo cedidas e profissionais renomados na área fizeram uma espécie de consultoria, como o diretor Douro Moura.
Com a possibilidade de ser visto por centenas de pessoas por meio dos espaços exibidores do circuito, Lucas espera que Quanto vale 1/3 passe uma mensagem de alerta. “Queremos que as pessoas tomem consciência e, mais que isso, tenham comprometimento com a questão. E não só os consumidores, mas todos os agentes envolvidos. Não faz sentido a abundância de recursos e a dimensão do desperdício”, alerta.
Debates
Para a analista ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Ana Luísa Campos, o Circuito Tela Verde estimula o debate sobre questões socioambientais, gerando reflexão e fomentando processos educativos.
Ela diz que a aceitação do material distribuído é muito grande e, a cada ano, o número de espaços exibidores aumenta. “As inscrições para lugares interessados em receber o KIT do CTV este ano estão abertas no nosso site”, avisa.
Ana Luísa faz parte da equipe de curadoria que seleciona os vídeos. Ela diz que os critérios avaliados incluem a abordagem da questão ambiental, a criticidade, a qualidade de som e imagem e o diálogo com a Política Nacional de Educação Ambiental. Neste ano, 20 vídeos foram escolhidos para fazer parte do CTV.
O secretário de Articulação Institucional do MMA, Edson Duarte, afirma que a secretaria tem estimulado e incentivado a realização do Circuito porque é um reconhecimento a quem faz arte em favor da vida, do meio ambiente e, uma forma de oportunizar o acesso às obras selecionadas. “O CTV é um sucesso e queremos que seja ampliado. Estamos trabalhando para isso e nos empenhado em fazer com que todas as outras agendas, movimentações e mobilizações tenham o Circuito Tela Verde como ponto de chegada”, afirma Duarte. “Que aproveitem as seleções e a boa coleção de obras que juntam arte com meio ambiente”, conclui.
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